domingo, 4 de maio de 2014

Terapia #1: RCA 104.4029 - LOU REED (1972) (original LSP-4701)

Saudações, caros amigos!

Peço profundas desculpas pelo sumiço/demora. Certamente alguns perceberam que eu havia começado um post a respeito do LPM-1254 Elvis Presley, prometendo uma segunda parte. A princípio me pareceu um post ideal para começar o blog, mas sinceramente com o tempo me questionei a respeito da decisão e também sobre a maneira com a qual eu iria desenvolver o post. Não quero que nenhum material apresentado se torne "maçante", ou seja: dividido em várias postagens e apresentando de vez várias prensagens, e isso era exatamente o que eu estava fazendo! Ia ser um começo muito chato pro blog, então apaguei o texto, a idéia e resolvi começar do zero com algo totalmente diferente. Perceberão que no fim de cada post daqui pra frente encontrarão links para download do material - e bônus - em audio, assim vocês podem ir ouvindo todo o material relacionado ao post enquanto lêem a respeito (e, diga-se de passagem, tudo devidamente analisado e selecionado por mim - o show do post de hoje, por exemplo, teve seu 'pitch' totalmente corrigido para que vocês não encontrem problemas na hora de curtir o som).


Ontem recebi uma jóia dos tempos do "bolachão" no Brasil: o 104.4029 da RCA, Lou Reed, lançado em 1972. Esse disco é deveras interessante em vários níveis, a começar que de uma forma geral ele é pouco conhecido quando se fala de Lou Reed. Pense rapidamente no cara e me diga o que vem à mente. Acho que não vai ser grande pecado eu arriscar em dizer que a maioria esmagadora pensou em Transformer, certo? Até mesmo quem não ouve o "Tio Lou" já viu pelo menos a capa um dia! É O disco associado ao artista. Temos também New York, Sally Can't Dance e mais alguns títulos, mas o ponto aqui é que Lou Reed teve uma carreira solo que vai de 1972 a 2012 (quando os problemas de saúde o 'pegaram' e ele se afastou, até infelizmente vir a falecer em 2013, em um domingo, dia 27 de outubro) e raramente alguém lembra que o Transformer não foi o primeiro disco dele. Há algumas razões pra isso, no entanto.

O disco não vendeu bem, pra começo de conversa, já que não trazia nada que fizesse jus à genialidade de Reed e que fosse extremamente original na época de lançamento (abril/72 nos EUA). Não me entendam errado: Lou Reed (o disco) é bom! Mas fica difícil considerá-lo um p*ta disco se levarmos em conta o material do Velvet Underground (que o "Tio Lou" praticamente escreveu todo) e os demais discos solo, que viriam a seguir. Sim, é uma comparação injusta já que em 1972 não dava pra adivinhar que discos melhores viriam, além de que pouca gente conhecia/lembrava dos Velvets e do Reed (ele praticamente desapareceu depois que saiu do VU em 1970, passando 1 ano em bico redigindo na firma de contabilidade do pai, acreditem se quiserem!). O problema é que até por isso o disco deveria ser melhor, afinal de contas era uma questão de reconhecimento e de mostrar que se tratava de um artista genial e com histórico, concordam? Seja lá como for, Rock & Roll bom ou não, o disco não esteve de acordo com os padrões comerciais e esperados e acabou vendendo pouco, o que consequentemente também fez este disco sumir do mercado por anos e anos. E se a RCA já tinha razões suficientes aí pra esquecer esse "debut" fraco, depois do lançamento do Transformer não sobraram dúvidas mesmo! Com a ajuda de David Bowie (fã declarado de Lou Reed e do Velvet Underground e artista contratado da RCA na época) foi criado um LP simplesmente genial, que trazia o melhor do artista que Reed era, com uma sonoridade totalmente original, relevante ao mercado e à música em 1972, e assim se perpetuou a imagem do "Lou Reed Transformer". Nada mais justo.


E aqui no Brasil, já que estou postando o disco brasileiro? Bom, pra começo de conversa, até 1972 o público geral aqui definitivamente não sabia quem diabos eram os Velvet Underground, Lou Reed e por aí vai. Se nos EUA já se tratava de algo underground de fato, imagine aqui! Juntando esse fato com o histórico de falta de documentação que temos no que se diz respeito a datas de lançamento em território brasileiro, divulgação e por aí vai, acabamos com algumas incógnitas do porquê de a RCA brasileira ter dado uma chance a este primeiro LP do Lou Reed. Certamente já se tinha conhecimento de que não havia vendido muito bem lá fora, afinal os discos por aqui sempre apareciam com alguns meses de atraso e o código de catálogo da nossa edição (104.4029, novo catálogo da RCA brasileira - não se preocupem, pois farei um post a respeito disso em breve!) deixa bem claro que o disco saiu no segundo semestre do ano. Transformer só deu as caras lá fora em novembro e apesar do atraso acho que não levou tanto tempo assim pro Lou Reed (o disco) aparecer aqui, até porque daí teria mais lógica lançar o Transformer e não este primeiro LP que sequer vendeu bem. Parece que foi questão de "sorte"! De qualquer forma, uma coisa é certa: se lá fora o disco vendeu mal, aqui foi pior ainda, tanto que o disco é bem escasso e muita gente nem sabe que saiu no nosso país. Fica claro também que o disco vendeu mal pois a nossa RCA não teve coragem nem de lançar o gigante Transformer aqui, que ficou representado apenas por um compacto (Walk On The Wild Side), e só voltariam a apostar no Lou Reed em '74 com o LP Rock 'n' Roll Animal.



Fatos de lado, e a opinião a respeito da música? Volto a dizer algo que comentei anteriormente: não se deixem levar apenas pela quantidade de vendas, o disco é sim uma boa ouvida. Das 10 faixas, 7 são composições da época do Velvet Underground que a banda não lançou em albuns e Lou Reed reaproveitou aqui, mudando alguma coisa nas letras e arranjos. Hoje em dia temos a chance de fazer comparações e constatar que as versões do VU são todas bastante superiores, o que acaba um pouco com a "graça", mas temos sempre de lembrar que em 1972 isso não era de conhecimento do público e fica injusto analisar o disco através desse ponto de vista, de comparações. Penso também que se vamos ouvir o album do início ao fim é pra curtir o material apresentado e não pra ficar comparando, concordam? E ouvindo Lou Reed eu francamente ouço um bom disco de Rock & Roll, coeso, que soube reaproveitar aquelas 7 composições dos tempos dos Velvets e fazer algo que soa uniforme. Não é nada genial pra época, mas quando ouvimos um disco de Rock & Roll não ficamos à espera apenas de genialidade, nós queremos ouvir um disco que mantenha o padrão de qualidade do início ao fim - e este disco faz isso muito bem. Temos boas faixas agitadas, como I Can't Stand It e Walk And Talk It; momentos raros de inocência por parte do Tio Lou, com I Love You e Love Makes You Feel; a versão original da belíssima Berlin, clássica, que acabou gerando um album inteiro em volta da estória, entre outras. É definitivamente um bom disco de Rock & Roll e uma boa ouvida, mesmo não sendo o momento mais brilhante de Lou Reed. Só pra finalizar minha opinião, acho que as duas maiores "falhas" do disco de estréia do Reed foram Ride Into The Sun e Ocean. Acho bacana ele não ter deixado essas duas faixas se "perderem no tempo" e as versões do disco se encaixam bem no todo, mas se for fazer uma comparação com as versões originais, com os Velvets, vish! Ocean, principalmente, é na minha opinião épica na master de 1970, enquanto Ride Into... era impecável na versão VU de '69, lindíssima. Mas deixarei vocês ouvirem e formarem suas próprias opiniões.



E falando em ouvir, fiquem tranquilos: estou deixando logo abaixo três links pra vocês conhecerem o disco original bem como um pouco de história relacionada! O show anexado no segundo link, registrado em 15 de julho de 1972 no King's Cross Cinema, em Londres, é um dos primeiríssimos do Lou Reed como artista solo, e primeiro da turnê do disco de estréia. O repertório traz boa parte das faixas do LP, além de alguns clássicos do VU (White Light/White Heat, Heroin, Sweet Jane - que recebe uma baita reação da platéia - e outras). Já o terceiro link traz uma coletânea que fiz pra vocês, a qual chamei de "LSP-4701: trabalho em progresso" e na qual inclui todas as versões existentes de estúdio dos Velvets para aquelas 7 faixas do LP solo do Tio Lou, além de 5 seleções ao vivo.

Algumas observações importantes que deixo pra vocês antes de ouvirem a coletânea: I Can't Stand It, Lisa Says, Ride Into The Sun e Ocean são versões master e por isso soam mais polidas que as demais. Essas 4 faixas foram gravadas pela banda com um album em mente, o qual não chegou a ser realizado. Ride Into The Sun é uma versão de matriz de acetato, ou seja: que foi feita apenas para fins de análise dos membros da banda. Escolhi essa versão pois se trata do único exemplo da master lançado com vocais - a versão oficial lançada em 1985, de fita, é instrumental (não se sabe ao certo a razão, mas possivelmente haviam perdido a multi-pista com vocais na época). Ocean é a master de 1970, gravada nas sessões para o album Loaded. Na minha sincera opinião é uma versão muito superior à master de 1969 e por isso a selecionei! As versões ao vivo com o Velvet Underground são todas de 1969 e à estas adicionei duas versões acústicas de 1972 para Berlin e Wild Child, até mesmo por motivos históricos. Essas duas faixas foram gravadas em uma reunião de Lou Reed, John Cale e Nico em Paris e são ótimas versões pra completar o "lado ao vivo" da coletânea. Espero que gostem!

Downloads:
01 - Album original: Lou Reed (1972)
02 - Lou Reed ao vivo: King's Cross Cinema, Londres, 15/07/72
03 - A história por trás do disco: versões do Velvet Underground
Peço que, por favor, invistam no material original quando possível e assim ajudem a manter o legado do artista vivo para as próximas gerações! O disco original está em catálogo como parte do box "Original Album Classics". As demais faixas se encontram fora de catálogo no momento, mas não é difícil ainda encontrar os CDs do VU que as possuem. O show foi disponibilizado gratuitamente por fãs para fãs.

Vídeos relacionados:


Espero que tenham gostado do post e que motive vocês a ouvir mais desse fantástico artista que foi e sempre será o Lou Reed, o "Tio Lou" como alguns de nós chamamos.

Até a próxima!
MitsuharuSan

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